ATA DA VIGÉSIMA SEXTA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA, EM 27-6-2000.

 


Aos vinte e sete dias do mês de junho do ano dois mil reuniu-se, no Theatro São Pedro, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezoito horas e trinta e três minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Paulo Autran, nos termos do Projeto de Lei do Legislativo nº 006/00 (Processo nº 0339/00), de autoria do Vereador Cláudio Sebenelo. Compuseram a MESA: o Vereador João Motta, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; o Senhor José Fortunati, Vice-Prefeito Municipal de Porto Alegre; a Senhora Eva Sopher, Presidenta da Fundação Theatro São Pedro; o Senhor Luiz Pilla Vares, Secretário Estadual da Cultura; o Senhor Paulo Autran, Homenageado; o Vereador Cláudio Sebenelo, na ocasião, Secretário "ad hoc". A seguir, o Senhor Presidente convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional Brasileiro e, após, concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Cláudio Sebenelo, em nome das Bancadas do PDT, PMDB, PSB, PPS e PT, teceu considerações sobre a vida pessoal e a atividade profissional desenvolvida pelo Senhor Paulo Autran, destacando a importância da contribuição prestada por Sua Senhoria para a dramaturgia nacional e declarando existir uma relação de simpatia entre o Homenageado e a Cidade de Porto Alegre. Na oportunidade, o Senhor Presidente registrou as seguintes presenças, como extensão da Mesa: do Senhor Israel Lapchik, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; do Senhor Luís Fernando Veríssimo; da Senhora Glória Bordini, representante do Curso de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC; do Senhor João Luiz Moreira, representante da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul - FIERGS; do Irmão Mainar Longhi, representante do Senhor Reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC; do Coronel Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul. Após, foi dada continuidade às manifestações dos Senhores Vereadores. O Vereador Antonio Hohlfeldt, em nome da Bancada do PSDB, salientou a justeza da concessão do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Paulo Autran, historiando dados relativos às peças teatrais protagonizadas pelo Homenageado e referindo-se a manifestações de jornalistas, escritores e críticos quanto à qualidade do trabalho desenvolvido por Sua Senhoria ao longo de sua carreira. O Vereador João Carlos Nedel, em nome da Bancada do PPB, comentou a relevância da solenidade hoje realizada pela Câmara Municipal de Porto Alegre no Theatro São Pedro, para a entrega do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Senhor Paulo Autran, destacando a dedicação e o empenho sempre demonstrados pelo Homenageado na realização de suas atividades artísticas. A Vereadora Sônia Santos, em nome da Bancada do PTB, discorreu sobre a relação de carinho existente entre a Cidade de Porto Alegre e o Senhor Paulo Autran, relembrando eventos ocorridos durante as temporadas de espetáculos protagonizados pelo Homenageado, em especial quando as apresentações ocorreram no palco do Theatro São Pedro. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome da Bancada do PFL, externou sua satisfação em poder participar da presente solenidade, historiando fatos atinentes à carreira do Senhor Paulo Autran na televisão, no cinema e no teatro e afirmando ser a concessão do Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre a Sua Senhoria a demonstração do carinho da Cidade pela figura do Homenageado. A seguir, o Senhor Presidente convidou o Vereador Cláudio Sebenelo e a Senhora Eva Sopher para procederem à entrega, ao Senhor Paulo Autran, do Diploma alusivo ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou os Senhores José Fortunati e Luiz Pilla Vares a realizarem a entrega, ao Homenageado, da Medalha referente ao Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre e, em seguida, concedeu a palavra ao Senhor Paulo Autran, que agradeceu o Título recebido. Após, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e trinta e cinco minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador João Motta e secretariados pelo Vereador Cláudio Sebenelo, como Secretário "ad hoc". Do que eu, Cláudio Sebenelo, Secretário "ad hoc", determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (João Motta): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, nos termos do PLL nº 006/00, de autoria do Ver. Cláudio Sebenelo destinada a homenagear Paulo Autran, entregando-lhe o Título Honorífico de Cidadão de Porto Alegre, nas dependências do Theatro São Pedro, exatamente na data em que estamos registrando mais um aniversário, de memoráveis espetáculos para a sociedade gaúcha e brasileira.

Convidamos para compor a Mesa o Sr. Paulo Autran, nosso convidado, que muito nos honra com a sua presença, razão pela qual, em nome da Câmara Municipal de Porto Alegre, registro os nossos mais sinceros agradecimentos. Esperamos que esta Sessão Solene, pelo menos simbolicamente, traduza todo o nosso reconhecimento pelo trabalho que V. S.ª  tem feito pela cultura brasileira.

Convidamos também para fazer parte da Mesa o Sr. José Fortunati, Vice-Prefeito, representante do Sr. Prefeito Municipal de Porto Alegre; a nossa querida Eva Sopher, Presidenta da Fundação Theatro São Pedro; o Sr. Luiz Pilla Vares, Secretário de Cultura do Estado Rio Grande do Sul.

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Executa-se o Hino Nacional.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): O Ver. Cláudio Sebenelo, autor desta proposição, está com a palavra e falará como proponente, e em nome das Bancadas do PDT, PMDB, PSB, PPS e PT.

 

O SR. CLÁUDIO SEBENELO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, caríssimo Paulo Autran. (Saúda os demais componentes da Mesa.) (Lê.)

“Os oradores desta noite falarão da tua afinidade com os palcos, da tua brilhante e ascensional carreira, da riqueza do teu mundo interior, das tuas relações, especialmente, afetivas com as platéias e, entre elas, esta que hoje nos prestigia e com este Teatro, tão freqüente em tua trajetória.

Senti algo próximo ao ridículo, quando pedi o teu curriculum vitae, para o preenchimento de uma formalidade burocrática. Decididamente, não precisas de currículo, porque nasceste pós-doutorado em teatro. És a própria história do teatro brasileiro, estás cercado de teatro por todos os lados. Durante todo o tempo pensas e te alimentas dele. A tua vida é o teatro. Tu és o teatro. Quem de nós não te viu? Quantas gerações te assistiram nas casas lotadas em recíproco protecionismo? Quem de nós desconhece a tua face pública, exposição permanente de tua alma? Quem não reconhece o paladino defensor, fazendo da ribalta o libelo contra a opressão?

Nós que, diariamente, cruzamos com as tragédias na epiderme ou na mídia e, entre as tragédias, a de pertencermos a uma sociedade canibalizadora que montou máquinas perfeitas de genocídios e desempregos, quem sabe, por momentos, após tanta apreensão, falemos de amenidades, nesta hora tão amena.

Então, ousando desbravar uma cidade - e sei como gostas de cidades, umas grandes, como, Rio, São Paulo, Paris, Nova Iorque e outras pequenas como Parati, no Litoral Fluminense. Peço licença, Paulo, para falar sobre aquela que hoje te acolhe, a Cidade de Porto Alegre.

As cidades têm corpo, formas e emoções. Têm personalidade imaginária. São feitas de sonhos, botecos, esquinas, ilusões, becos e personagens. São estressantes, com trânsito congestionado. Seus odores, às vezes, são irrespiráveis. As cidades têm comércio, gente que passa, ri, chora ou malha. Estresse, congestionamentos, cheiros e humores nada mais são do que indicadores de uma vida intensa da cidade, o pulsar de seus corações.

As cidades são feitas, também, de monumentos que expressam a arte de sua gente ou foram criados pela natureza: o Pôr-do-sol, o Laçador, na entrada da Av. Farrapos, a ponte sobre o rio Guaíba ou este monumento que nos imobiliza todos os dias, que é uma criação do genial Tennius: o Monumento aos Açorianos. Moldando o ferro, concebendo-lhe a forma de pessoas, enferrujado na intempérie, às vezes, insinua um bar. E a mulher pássaro rompe o ar com a calma do seu peito formando uma quilha da embarcação, como se a carregasse em direção ao céu, ao futuro, ao infinito. Reproduz os casais que, navegando aqui, aportaram os primeiros alicerces de nossa construção, de 250 anos da Carta Régia de Dom João V, liberando-os para o sul da América.

Espio, diariamente, na leveza da estátua de ferro, cada um de nossos ancestrais e milhares de outras imagens, de citadinas fantasias. De identificação com a Cidade ou como diz Quintana na poesia ‘O Mapa’:

Quando eu for, um dia desses,/ Poeira ou folha levada / No vento da madrugada/ Serei um pouco do nada/ Invisível, delicioso/ Que faz com que o teu ar/ Pareça mais um olhar,/ Suave mistério amoroso,/ Cidade de meu andar/ (Deste já tão longo andar!)/ E talvez de meu repouso...

Este é um dos Quintanares - segundo Drummond - que, recitado por ti, Paulo, abriria um CD alusivo à Porto Alegre que idealizei. Mas, como sabes muito bem, um CD é muito difícil de se conceber, de produzir-se e de ser executado, é quase como uma peça de teatro.

Daqui a pouco, no término desta Sessão Solene, cantaremos o Hino Rio-Grandense. Dentro desta beleza farrapa, destaco uma frase de orgulho, da altenaria de um povo e sua saga:

Sirvam as nossas façanhas / de modelo a toda a Terra.

Na verdade, como sempre foste um dos nossos, falaremos das nossas façanhas que, feitas na rotina incomum de teu quotidiano, sirvam de modelo, sem nenhum favor, a toda a Terra. E com as façanhas, nós vamos absorvendo este certo ar do Mário Quintana, o qual não se respira, apenas se incorpora, docemente, insensível, por ruas grávidas de mistérios e sortilégios.

Parece mentira, mas Porto Alegre não tem hino. É que somente o admitiríamos se fosse, no mínimo genial, como a segunda faixa do meu hipotético CD, dos irmãos Kleiton e Kledir Ramil:

Deu prá ti,/ baixo astral,/ vou prá Porto Alegre./ Tchau!

Essa seria, sem dúvida, uma das mais lindas aberturas e, na terceira faixa, eu colocaria uma música que o Fogaça fez para esta meridional e graciosa aldeia:

Porto Alegre é demais,/ não me leve a mal,/ é aqui que eu vivo em paz.

A seguir, de Tito Madi, em ‘Gauchinha bem querer’:

Eu um dia voltarei,/ prá rever o meu Guaíba,/ prá rever meu bem querer.

Numa outra faixa do CD, de João da Benga (o grande João Palmeiro da minha adolescência):

Olha a beleza/ que está o céu./ O pôr-do-sol/ deixou na noite,/ um rosa-véu.

Poesia esta que fala de uma das grandes características de Porto Alegre, com o seu inigualável pôr-do-sol. Tão característico que, há pouco, foi inaugurado um grande anfiteatro ao ar livre, como na Grécia e à beira do rio Guaíba, o qual possui dois detalhes fundamentais: a beleza do local e o nome escolhido pelo povo: Teatro Pôr-do-Sol.

Neste meu CD ficção, eu falaria do Centro da Cidade, do seu coração na música do advogado, pianista e compositor Alberto do Canto:

Rua da Praia / que não tem praia/ que não tem rio./ Onde as sereias andam de saia,/ e não de maillot.

E, de Paulo Coelho, gravado por Horacina Corrêa: ‘Alto da Bronze’, percorreria a infância da minha cidade:

Praça sem banco,/ do rato branco,/ do futebol./ Da garotada endiabrada das manhãs de sol.

Nos versos, nas rimas e na música é que se transmite, com mais facilidade, uma cultura. Eu te falo, Paulo Autran, da nossa cultura desta forma. O que dizem os versos sobre esta musa que tem rio, vento, edifícios, centro, colinas onduladas, afagada por um povo simpático e que tem raízes naqueles primeiros casais que aqui aportaram.

Enquanto o meu CD não se materializa, vou depois te fazer a entrega de um livro do professor Luiz Augusto Fischer, chamado Dicionário de Porto Alegrês, onde terás acesso a um novo ramo de Língua Latina, a nossa gíria trilegal de buena.

E, se achas que pode haver um exagero, olhe para os nossos rostos um por um e, nesta platéia, encontrarás inúmeros exemplares em: Helena Ibañez, Zilá Moreira, Zuleika Rosa Guedes, Olga Reverbel, Eva Sopher, Mafalda Veríssimo e família, o marchand Renato Rosa e milhares de outros amigos que sempre vêm aqui para te ver.

Por fim, um poema: ‘Porto Alegre, Vento e Rio’. Pois somos descendentes diretos de um vento, antipoluente vindo do sudoeste, enchente de alma, sopro de vida, meados de cada ano:

Magia da adolescência/ era um certo sudoeste./ Tanto norte, tanta sorte.../ Morte, então,/ nem pensar./ Do sul mais profundo, o vento,

Evento cinza cinzento, chuva, frio...e um passarinhedo!/ Cedo, de outro mundo, almas/ nas vidraças carpiam o arremedo/ de um silêncio escorrendo solidário./E se ouvia o triste de seu canto.

Nada além, exceto/ excêntricas manias: dedo em riste,/ encrespava águas, batia portas./ Erótico, levantava saias,/ arfava pelas esquinas/ e frestas uivavam vaias.

Aos dias gris - puro instituto./Capeta, quase metafísico,/ desafeto. Ou sortilégio,/ soprava recados do tempo:/ ora, um legado de mares/de açorianos ancestrais.

Ora, segredos seculares./ Ao ouvido e pele, carícia./ E tanto, e sempre, e mais/ absorto, eu pescava,/ à beira do cais do porto, / mandinho, cará, lambari.

Selvagens aguapés e biguás,/ diante das margens,/ curtiam possessivos/ um Guaíba/ irreal, transbordante,/ mexido. De frio? Não!

O desprezo à aragem,/ andrógina abstração/ sedizente - Minuano -,/ garoa fina de dar medo/ ou um azul varrido de nuvens,/ carregava o ócio da gênese universal.

Sem ciúme da mulher-cidade,/ A íntima promiscuidade com o rio enchente;/ era quimera distante do equinócio,/ já próximo, muito próximo,/ ao primeiro jogral/ entardecente de primavera.

O final da jornada/ escurecia a balada dos salsos-chorões/ e para quem olhasse as ilhas,/ ou para o ilhéu,/ um rei se aninhava/ no véu do céu,

Do róseo purpuráceo,/ ao sangüíneo esvainte,/ para, só no dia seguinte,/ recarregar suas pilhas,/ temperar o mezzo-soprano/ vento meio de ano.

e congelar, surrealista,/ nervos, veias, ossos./vMas, crocce e delícia,/ um doce espreguiçar me aprazia/ a consciência das entranhas,/ como a evocação estranha

do antigo povoado/ dos quarenta casais,/ hoje cidade grande,/ a obsessão pelo rio barrento,/ lufada de ar puro,/ que apita e dói

nesta saudade,/ doida, antiga,/ como trem partindo/ agora mesmo/ cá dentro, sina/ tão incompreensível

quanto o concubino trio:/PORTO ALEGRE, VENTO, RIO,/ nostálgico desvario,/ velho menino/ que aqui me traz./ E nunca mais foi-se embora.

 Nunca mais.../ Nunca mais...

Meu intento ocorreu no sentido de mostrar uma outra face deste chão que hoje pisas, terra do Érico, do Luiz Fernando, do Scliar, do Assis Brasil, da Lia Luft, do Iberê, do Baril e da Alice Bruggemann. E, de uma forma diferente.

Se estabeleceste, em toda a tua trajetória, um pacto amoroso conosco, uma das maneiras é de retribuir com o que há, para nós, de mais caro: a silhueta desta metrópole construída sob a forma de idéias, gente e arte.

Esta é uma escolha de grande reciprocidade, relação íntima cidade-cidadão, um mergulhar na mestiçagem de ilhéus açorianos, índios, africanos e europeus. É tanta coisa! É acolhida colina, abraços, pedra, céu, água, arborização, passos insensíveis no madrugar das ruas, geografia invulgar e um imenso afeto circulando entre as pessoas que, como tu, se confundem com os habitantes deste pedacinho de Sul, despoluído pelo Minuano e tão privilegiado por ti, em representações inesquecíveis.

És cidadão deste povo. Com o toque mágico de tua arte enriqueces casas, teatros, gente, ruas, restaurantes, hotéis. És, de há muito. Como se fosse um filho genuíno. És irmão integrado a esta complexa, indecifrável e, sem falsa modéstia, encantadora Capital dos gaúchos. Agora, oficialmente, completamente, tua. Tão tua, quanto este teatro.

Paulo Autran e Porto Alegre. Uma recíproca e incurável dependência química. Até nas iniciais, que simbiose, tchê!” Muito obrigado.

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): Registramos as seguintes presenças: do Sr. Israel Lapchik, Presidente do Conselho de Cidadãos Honorários de Porto Alegre; do Sr. Luís Fernando Veríssimo, jornalista e escritor; da Sr.ª Maria da Glória Bordini, representante do Curso de Pós-Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUC; do Sr. João Luiz Moreira, representante da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul - FIERGS; do irmão Mainar Longhi, representante do Reitor da PUC; e do Cel. Irani Siqueira, representante do Comando Militar do Sul.

O Ver. Antonio Hohlfeldt está com a palavra, em nome da Bancada do PSDB.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Meu irmão Paulo Autran, porque assim já foste designado pelo Ver. Cláudio Sebenelo. Imagino que hoje, provavelmente, tu estejas pensando que este é o papel mais difícil que já viveste, porque, em vez de ser sujeito de um enredo, viraste objeto de homenagem.

É um papel difícil e, por isso mesmo, eu resolvi que não valeria a pena fazer discurso, mas, sim, recordar palavras que o Paulo disse, ou o que escreveram sobre o Paulo. Eu fiz um rápido apanhado de algumas coisas que vou pinçar aqui e ali para relembrarmos a imagem do Paulo. Não vou mostrar aqui as fotos, de 40 anos atrás, e que daria para fazer uma bela exposição. Mas quem não lembra do Paulo Autran em “Liberdade, Liberdade”, e quero começar com esse texto, logo na abertura. É um texto de Louis Jouvet e Jean Barrault em que ele dizia, na abertura do espetáculo:

Sou apenas um homem de teatro. Sempre fui e sempre serei um homem de teatro. Quem é capaz de dedicar toda a sua vida à humanidade e a paixão existente nesses metros de tablado, esse é um homem de teatro.

É esse homem que estamos homenageando. Mas esse homem enfrentou desafios, ele teve dificuldades. Eu me permito lembrar um depoimento do Paulo, nos seus primeiros anos de vida:

Além da dedicação e do carinho de Eni, a minha irmã mais velha que cuidou de mim, como filho, apesar da pequena diferença de idade entre nós, eu tive, sim, uma influência extraordinária, de uma mulher extraordinária, a dona Adelaide Cavalcanti, a mãe de Guido, minha vizinha. Era sobrinho de Júlia Lopes de Almeida e de Filinto de Almeida, célebre casal de escritores, pintor excelente, prêmio de viagem na Escola de Belas Artes, casada com o escritor e jornalista Plínio Cavalcante, era uma mulher inteligente, culta e sem bloqueios. A sua casa era freqüentada por escritores, jornalistas, poetas, pintores e músicos da época. Além de tudo, possuía uma vastíssima biblioteca, meu paraíso durante anos. Li tudo o que ela me permitiu ler e depois às escondidas, tudo o que ela me proibiu, roubando e devolvendo os volumes. A sua escala de valores era completamente diferente da escala de valores padrão de uma família burguesa como a minha. Ela e os livros foram me revelando o mundo da arte, da literatura e da pintura. Porém, mais importante que isso, ela me revelou a precariedade do julgamento dos homens. A influência negativa dos preconceitos burgueses que a imprensa mente, que a Lei pode estar errada e que o aparente nem sempre é real. Tudo isso sem didatismo, com conversas, aparentemente, normais, banais, sem chocar-me, com muito amor. Foi para mim a mãe que perdi tão cedo.

 Falando depois das suas primeiras experiências de teatro, a respeito do TBC. Nas notas que trouxe para esta palestra, dizia Paulo Autran, em uma dessas falas:

Cito a disciplina fora do comum que tínhamos no TBC. O regulamento era rígido e o nosso sistema de trabalho exaustivo e apaixonante. Apaixonante, porque era exaustivo e, exaustivo, porque era apaixonante, porque quanto mais a gente gostava, mais a gente queria trabalhar. Não me lembro de ter havido em todos aqueles anos, uma só questão trabalhista no TBC. Todos gostavam de trabalhar lá, até porque, durante muito tempo, o TBC foi a Meca do teatro no Brasil.

Nem por isso o Paulo Autran ficou a vida toda no TBC. Ele saiu, formou a Companhia Tônia, Celi, Autran, e começou estreando Otelo, cuja crítica, nos jornais, no dia seguinte dizia:

Consideramos o Otelo, que a Companhia Tônia, Celi, Autran, vem estrear no Teatro Dulcina, a maior realização que até hoje assistimos no Teatro Nacional.

 

Era a crítica do Diário de Notícias de Henrique Oscar.

Também a interpretação está isenta de estrelismo. Isso é tanto mais notável, se pensamos o que quanto um papel como o de Otelo, particularmente, se prestará a essa distorção. Desempenhando, Paulo Autran faz tudo o que muitíssimo se esperava dele. O seu trabalho é de uma força, de uma generosidade, como dizem os críticos franceses, surpreendente, com uma caracterização impressionante e marcando, admiravelmente, os três principais estados de espírito do mouro: a alegria lírica do amoroso feliz do começo, o torturado, o angustiado da parte central e o alucinado, o possesso do último terço, passando, gradativamente, sem transição brusca, em um todo harmônico, de um estado a outro. Mais do que nunca, ele se confirma como um ator de uma categoria desconhecida no teatro brasileiro, pelo menos das últimas décadas.

Há ainda um depoimento do Paulo, agora de um período mais próximo. Diz Paulo, recordando a montagem de Equus:

Quando fiz Equuos, o Everton de Castro era o garoto que cegava os cavalos, e eu era o psicoterapeuta, o médico. A peça é narrada pelo médico. Na penúltima cena, o garoto conta e revive o momento em que foi obrigado a cegar seis cavalos com estilete. Era um momento belíssimo e de grande emoção no espetáculo, e o Everton fazia, lindamente. Terminava em uma crise de nervos, debatendo-se no chão. O médico vai até ele, pega-o nos braços, deita-o na cama, acalma, cobre-o, e começa a contar a platéia em um longo monólogo o seu desespero, a sua sensação de inutilidade, o seu sentimento de culpa. É o remate, a pedra final, da crise existencial que ele, médico, começa a revelar no início da peça. Durante os ensaios, muito racionalmente, analisando, friamente, o desenvolvimento dramatúrgico do texto, eu disse ao Celso Nunes, o diretor, que depois do impacto visual, sensorial e emocional da penúltima cena, seria muito difícil conseguir a atenção da platéia para o monólogo final. Ele concordou. Sugeri então, dar ao desespero do médico uma total extroversão, fazendo isso, descontroladamente, fisicamente, em uma convulsão emocional. Ele me disse para tentar, tentei e ele gostou. Eu usei toda a minha força, a minha voz e o meu despudor para isso. Terminava o espetáculo exausto, suado, sem fôlego, e o público também gostou. Lembro que Miriam Muniz disse-me: ‘Você usou coisas que nunca vi você usar, parece um outro ator, novo’. Foram aplausos incríveis, e as pessoas vinham nos cumprimentar emocionadas. Um psicanalista abraçou-me com força e começou uma frase que nunca terminou, porque teve um acesso de choro que o impediu de falar. Tudo bem, mas eu não estava contente com o meu monólogo, eu sentia que era algo falso aquele desbunde do médico. Um homem que se acusa de não ter uma paixão, que se alto analisa e que sofre por isso, não pode se entregar tão apaixonadamente ao desespero. Depois de um mês da estréia e de uma frustração diária de minha parte, no final de uma sessão, peguei o garoto, como em todos os dias, tentei acalmá-lo, deitei-o, cobri-o e comecei a vê-lo dormir em silêncio, fiz uma longa pausa, sem saber como interrompê-la. Depois, olhei para a platéia e, sem pensar, comecei a contar baixinho o meu sofrimento, o meu desespero, a minha inutilidade, o meu sentimento de culpa, e as lágrimas corriam pelo rosto, pingavam do meu queixo e eu nem percebi que estava chorando. Quando apagou-se a luz, os aplausos foram mais fortes ainda. O Éverton disse-me: ‘Que bonito, Paulo’, e percebi que todo o elenco estava chorando também, então senti que havia acertado. Sem racionalizar, sem planejar, sem nem saber como. Foi um dia muito bom em minha vida. Tive a sorte de me deixar levar pela intuição, por um impulso interior.

Esse é Paulo Autran, o ator que homenageamos hoje, o ator de Porto Alegre. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE  (João Motta): O Ver. João Carlos Nedel está com a palavra. Fala pela Bancada do PPB.

 

O SR. JOÃO CARLOS NEDEL: Ex.mo Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. João Motta; homenageado, Paulo Autran. (Saúda os demais componentes da Mesa.) Em poucas oportunidades, como no dia de hoje, a Câmara Municipal de Porto Alegre realizou uma Sessão Solene com a dimensão e a importância da que estamos, agora, participando.

O duplo propósito que determina este encontro tem tais méritos que, a rigor, não bastaria a representação que fazemos do povo de nossa Cidade, mas seria necessário que o povo inteiro aqui se fizesse presente, para que se pudesse retribuir, em valor e significância, sua realização.

Primeiro, os cento e quarenta e dois anos do Theatro São Pedro, um dos mais importantes teatros do Brasil. Por obra e graça de Deus, o Theatro São Pedro tem a conduzir seu percurso no presente, e oxalá por muitos anos no futuro, a inteligente e dedicada Eva Sopher, prima-dama da cultura porto-alegrense e gaúcha.

Em melhores mãos não poderia estar, e a Eva Sopher devemos, sem dúvida nenhuma, o fato de podermos desfrutar, presentemente, de um teatro com as condições, a beleza e a estrutura do Theatro São Pedro, com certeza, um dos mais expressivos canais difusores da cultura brasileira e internacional.

O outro motivo de nossa entusiástica, porém emocionada e até mesmo comovida participação nesta Sessão Solene, é a outorga do Título de Cidadão de Porto Alegre a este nome ímpar do teatro nacional, que é Paulo Autran, homenagem que tem origem na culta e lúcida iniciativa do Vereador Cláudio Sebenelo, a quem cumprimento, gratificado por ser seu colega.

Tudo o que se possa dizer sobre Paulo Autran será sempre pouco para tentar apresentá-lo ou defini-lo, menos ainda para conhecê-lo.

Quantas gerações já tiveram a oportunidade de assistir a essa verdadeira legenda do teatro, de norte a sul do Brasil - e também pelo mundo todo -, com sua cada vez mais apurada capacidade interpretativa, quer no teatro, no cinema ou na televisão, em qualquer hipótese sempre uma estrela de primeira grandeza, mas que, ainda assim, brilha e ilumina sem ofuscar, encantando sem pretender realçar a própria imagem, valorizando a arte de que é servo submisso e fiel, mais do que a glória e o orgulho da celebridade, muitas vezes episódicos, fugazes e insustentáveis.

Paulo Autran, que tive a alegria de, em muitas e sucessivas vezes, admirar em cena, especialmente no teatro, de que é senhor sem contestação e soberano sem substitutos, é uma dessas raras e singulares pessoas predestinadas, capazes de fazer a arte celebrada não apenas por ser arte, mas por ser por ela realizada e veiculada. E, de cada vez em que o assisti, esteve sempre melhor, melhor me fez sentir seus personagens, melhor me fez receber as mensagens que transmitia.

De Shakespeare a Sófocles ou Glauber Rocha, passando por Arthur Miller, Tennessee Williams, Pirandello ou Millôr Fernandes e tantos outros autores nacionais e internacionais, de “Otelo” a “My fair Lady”, Paulo Autran só é superável por um único ator: o próprio Paulo Autran na próxima apresentação.

Orgulho do teatro brasileiro, de que é verdadeiro ícone, Paulo Autran é admirado, requisitado, disputado e pretendido por toda a nação brasileira, mas, mais do que isso, é amado por cada um de nós, em cada um de seus personagens, sim, mas muito mais na sua própria pessoa, pelo tanto que nos tem feito crescer, individual e coletivamente, em termos culturais e sociais.

Porto Alegre, que se orgulha de sua tradição cultural, de que é um belo exemplo o nosso Teatro São Pedro, materializa seu reconhecimento ao valor de Paulo Autran ao conceder-lhe hoje o título de Cidadão de Porto Alegre.

A Bancada do Partido Progressista Brasileiro, a que me orgulho de pertencer, acompanhado pelos nobres e dignos Vereadores João Dib e Pedro Américo Leal, por meu intermédio, cumprimenta Paulo Autran pelo título que agora recebe e o acolhe efusivamente entre o seleto grupo de Cidadãos Honorários de Porto Alegre.

Que Deus Nosso Senhor, que lhe deu a graça da vida e o talento artístico, o abençoe, e lhe conserve, cada vez mais marcante, esse dom especial, reservado àqueles que têm uma missão também especial, que, no seu caso, por certo, é alcançar o coração das pessoas sensíveis às manifestações da arte. Parabéns. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): A próxima oradora a se manifestar, pela Bancada do PTB, é a Vereadora Sônia Santos, que está com a palavra.

 

A SRA. SÔNIA SANTOS: Ex.mo Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. João Motta; homenageado, Paulo Autran. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) Duas cidades: Londres e Porto Alegre. Duas personalidades: Shakespeare e Paulo Autran.

Otelo foi quem trouxe Paulo Autran  a Porto Alegre, a cidade que ele não conhecia, que o cativou e que foi por ele cativada.

Sua primeira vinda foi arrebatadora. A temporada, que pensavam ser de uma semana, se transformou em mais de um mês. Sua figura humana e artística impactou de tal maneira nosso povo que essa paixão perdura até hoje.

Paulo Autran tem laços com a nossa Cidade que vão além do plano artístico: são laços de ternura. São os inúmeros amigos conquistados ao longo desses anos que o fazem retornar e retornar a Porto Alegre, não apenas para compartilhar sua arte, mas também para compartilhar sua vida.

Paulo acompanha o desabrochar da nossa Cidade desde os tempos em que comprava milho verde no Mercado Livre, onde hoje é a estação do TRENSURB. Há uma relação de cumplicidade entre o artista e a Cidade. Entre o artista e o Theatro. O velho e o novo Theatro São Pedro, que faz l42 anos e hoje nos recebe e onde ele esteve tantas vezes. Aqui Paulo desnudou Otelo, Édipo, Macbeth e nos levou à Inglaterra Vitoriana, transcendendo tempo e espaço.

Seria óbvio dizer que o ator tem sensibilidade, mas, se a sensibilidade estética fica a serviço da cena, a sensibilidade do ser contribui para a revelação de valores humanos.

São setenta e sete anos do ser humano Paulo Autran. Ao olharmos para ele, com os olhos de amigo, vemos alguém comprometido com o próximo. Uma pessoa nunca fechada ao sentido evolutivo da arte, da política e da vida.

Na política, coerente e ousado. Nos tempos da repressão “Liberdade” foi a peça que levantou a consciência política. Coerente na escolha do texto que respondia e correspondia à realidade política, social e humana. Ousado ao delatar, com sutileza, as necessidades do povo brasileiro. É a arte a serviço da vida, sempre.

Olho o mapa da cidade como quem examinasse a anatomia de um corpo (É nem que fosse o meu corpo) Sinto uma dor infinita das ruas de Porto Alegre onde jamais passarei...

As palavras de Mário Quintana traspassaram o coração de Paulo. Se a linguagem do poeta é a palavra escrita, a linguagem do ator é a palavra expressa. Ambos transferem, emprestam suas emoções, que nos fazem seres melhores e mais felizes.

Ambos, o poeta e o artista, deixaram Porto Alegre habitar em seus corações. A nós só nos resta dizer: muito obrigada. (Palmas.)

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra. Fala pela Bancada do PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Ex.mo Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. João Motta; nosso querido homenageado, Paulo Autran. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.)

Tinha que ser no Theatro São Pedro, tinha que ser neste teatro, em cujo palco, Pilla, por várias vezes, como estudantes, participamos daquelas jornadas nas quais os nossos sonhos juvenis, as nossas posturas idealísticas se digladiavam.

Tinha que ser no Theatro São Pedro, palco das grandes manifestações culturais e políticas que o Rio Grande, há mais de um século, presencia.

Tinha que ser no Theatro São Pedro, em que eu imaginei, um dia, pudesse, pretensiosamente subir ao seu palco e, quem sabe, encenar uma peça.

Tinha que ser no Theatro São Pedro, que a nossa querida Eva Sopher resolveu transformar no símbolo do tradicional com o novo, naquilo que não fenece, e que, não fenecendo, rejuvenesce.

Tinha que ser aqui, Paulo Autran, que eu me sentiria no dilema da grande provocação. Honestamente, eu compareço a esta Sessão Solene da Câmara Municipal de Porto Alegre tocado por duas vertentes: de um lado, a figura do homenageado; de outro, um convite indeclinável, do autor da homenagem, meu quase irmão, Ver. Cláudio Sebenelo. Nem ele nem Paulo Autran me haviam dito que eu estaria, hoje, frente a um teste, que, para vivenciá-lo, eu não me havia preparado.

Eu sou o último orador, depois de uma série de pronunciamentos, que começaram com a cultura do Sebenelo, que prosseguiram com o conhecimento do Antonio Hohlfeldt, com as posições do companheiro João Carlos Nedel e com o brilho e o talento dessa jovem expoente da vida pública da Cidade e do Estado, minha querida colega Sônia Santos. Não tenho outra solução. Eu estou vivendo, Paulo Autran, aquela dificuldade do ator de terceira categoria, que, tendo muita coragem, recebeu um script com o qual ele deveria se apresentar numa peça. Malgrado seu esforço e a sua coragem, o script se tornou ineficaz, pois tudo o que ele podia dizer a respeito da peça - leia-se pronunciamento que deveria fazer - já foi feito pelos outros. E o que é melhor para ti, o homenageado, e para teus amigos presentes, foi feito bem melhor do que ele poderia fazer. É o teste definitivo.

Se um dia eu sonhei ser ator, e me frustrei no tempo, hoje, aos sessenta anos de idade, tento a revanche, e o faço no maior dos improvisos, dizendo a ti, Paulo Autran, que se, muitas vezes, eu sentei no teatro e vi tua representação, muito mais vezes eu glorifiquei a Globo por me ensejar meios modernos de comunicação, que me permitiam ver-te no aconchego do meu lar. E os cinemas, que existiam em grande quantidade nesta Porto Alegre, me permitiram ver-te ao lado do Cil Farney e de tantos outros atores da nossa Vera Cruz logo nos primórdios do cinema brasileiro. Em todas elas, eu imaginei que um dia eu iria poder, de uma forma mais direta, olhar-te de uma forma diferente. Hoje, pelo menos nesse particular, eu consigo ter um resultado positivo. Até hoje, eu era um mero espectador que via o brilho do teu trabalho. A partir de hoje, eu posso, na expressão da minha Quaraí, na fronteira do Rio Grande, “cometer uma gabolice”.

Hoje eu sou quase colega do Paulo Autran. Ele é Cidadão de Porto Alegre, e eu sou representante do povo de Porto Alegre na Câmara Municipal. Já estamos mais próximos. A cidadania nós reservamos para ti, porque nós não iríamos, naturalmente, comprometer os nossos mandatos, retirando-te de quantos locais tu levas a cultura brasileira, o teu carinho pela arte, o teu entusiasmo pelo que tu fazes, para te colocar no cotidiano de quem, como nós - o Ver. João Motta, o Ver. Sebenelo, a Ver.ª Sônia Santos, o Ver. Nedel se embrulham, dia todo, nas discussões, nas coisinhas menores da Cidade.

Para ti, nós reservamos uma tarefa maior: tu, doravante, como Cidadão de Porto Alegre, ficas incumbido de tratar das coisas maiores de Porto Alegre, de cantá-las por este Brasil e pelo mundo, de dizer que esta Cidade, com algum ranço de provinciana ainda, aqui na extrematura meridional da Pátria, ficou muito orgulhosa de saber que, um dia, tu permitiste que nós incluíssemos o teu nome na galeria de Cidadãos Honorários desta Mui leal e valerosa Cidade de Porto Alegre.

Obrigado, Paulo, Porto Alegre ficou mais alegre no dia de hoje. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): Neste instante, dando seqüência a esta Sessão Solene, convidamos o Ver. Cláudio Sebenelo, autor da proposição desta homenagem, para que, juntamente com a nossa querida Eva Sopher, faça a entrega do Diploma de Cidadão de Porto Alegre ao nosso querido Paulo Autran.

 

(É feita a entrega do Diploma.) (Palmas.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): Convido, agora, o nosso Vice-Prefeito, José Fortunati, e o Secretário Estadual da Cultura, Luiz Pilla Vares, para fazerem a entrega da Medalha da Cidade de Porto Alegre.

 

(É feita a entrega da Medalha.) (Palmas.)

 

Concedemos a palavra ao nosso mais recente Cidadão de Porto Alegre, Sr. Paulo Autran.

 

O SR. PAULO AUTRAN: Meus amigos, eu sou uma pessoa avessa a discursos. Confesso que, hoje, quando me disseram que ia haver quatro discursos, eu pensei: “Ah, minha Nossa Senhora, como é que todo o mundo vai agüentar quatro discursos?” Mas não foram quatro discursos. Eu encarei como quatro declarações de amor. (Palmas.)

E confesso que fiquei muito comovido.

Mas eu tenho que contar uma coisa para vocês. Eu, há muitos anos, venho a Porto Alegre. Sempre que minhas peças fazem sucesso, eu faço questão de trazê-las a Porto Alegre. Eu tinha um prazer enorme em chegar na Cidade e encontrar as pessoas, os meus amigos, mas, no meio da temporada, ia-me dando uma sensação desagradável. Eu tinha uma sensação de humilhação, uma sensação de que faltava alguma coisa, de inferioridade, porque eu pensava: Eles são gaúchos, e eu não sou.

Eu acho que, a partir de agora, essa sensação de humilhação, de inferioridade, desaparece complemente. Agora eu sou tão gaúcho quanto vocês. (Palmas.)

Eu quero dizer ao Sebenelo: muito obrigado pela idéia. Quero agradecer à Câmara de Vereadores, quero agradecer as gentilezas todas que Porto Alegre sempre me dispensou e declarar o meu amor a Porto Alegre. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): Nós gostaríamos, antes de passarmos para o ato formal do final da nossa Sessão, de ouvir o Hino Rio-Grandense, de expressar, em nome da Câmara Municipal de Porto Alegre, o triplo significado desta Sessão: o primeiro, evidentemente, fazer esta homenagem a ti, Paulo Autran; o segundo, é fazermos, aqui, Eva, nesta data do aniversário do Theatro, mais uma homenagem a esta Casa de espetáculo em nome da Câmara Municipal; e, por fim, prestar as nossas mais sinceras homenagens a ti, Cidadão de Porto Alegre, por tudo o que tens feito pelo teatro gaúcho e pela cultura. Muito obrigado pela presença de todos. Convidamos a todos para, em pé, ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)

 

O SR. PRESIDENTE (João Motta): Estão encerrados os trabalhos da presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 19h35min.)

 

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